Sobre o desenho
Marcelo Guimarães Lima
Do desenho em geral
Em sentido geral, podemos afirmar que o desenho emerge no processo de desenvolvimento humano da atividade gráfica relacionada ao desenvolvimento neuromotor e perceptivo da especie, na origem, entre outras modalidades, das varias formas gráficas de comunicação as quais “culminam”, por assim dizer, na escrita.
Assim considerado, o desenho - o ato gráfico, seus meios e seus resultados - e’ elemento da vida intelectual e emocional, origem e resultado do desenvolvimento da percepção, da habilidade manual, da simbolização, das capacidades inter-relacionadas de cognição e expressão na vida de relação característica das sociedades humanas.
Esta caracterização ganha importância para a compreensão do desenho como disciplina artística em nosso tempo na medida em que o contexto cultural hoje, marcado pelo desenvolvimento tecnológico, transforma as disciplinas e suas fronteiras, os meios de conhecimento, comunicação e expressão, relaciona e transforma em profundidade os “meios produtivos” considerados de modo geral e consequentemente as formas materiais e simbólicas de vida.
Do desenho-arte
O desenho e’ forma e disciplina artística. A forma esta’ na base da disciplina autônoma, isto e’, do desenho considerado e apreciado por si, e na base, como elemento “ infraestrutural”, de varias outras disciplinas como a pintura, o design, a arquitetura, etc.
Na comparação e distinção entre, por exemplo, o desenho e a pintura, já se disse que o desenho seria o que resta da pintura quando retiramos dela a cor. Operação que faz ressaltar o elemento ideal da forma próprio do desenho - elemento mais abstrato por contraste `a sensualidade essencial da pintura- e, igualmente, evidencia o desenho como momento inicial, nível ou elemento básico da criação visual de formas nas artes da representação espacial, incluindo as artes da experiencia espaço-temporal tais como a dança, o filme, entre outras.
Ponto→Linha→Plano→ Figura, elementos generativos primários da analise e representação espacial, emergem no desenho enquanto “abstrações concretas” e caracterizam o movimento essencial de mediação próprio do desenho, de identificação e projeção espaço-temporal e mapeamento de relações e, assim, de construção da experiencia de si e do mundo.
Se retiramos da pintura o elemento da cor, o que resta e’ a delimitação das formas pelo contraste essencial, “ primitivo” entre luzes e sombras. O desenho seria então, deste modo, a organização gráfica elementar ou primeira das relações entra a luz e a sombra gerando as formas e os ritmos da representação espacial. Na sua forma artística autônoma, o desenho e’, também, organização “ultima”, ao mesmo tempo sintética e dinâmica, isto e’, fundamentada em uma relativa economia de meios, autossuficiente e, ao mesmo tempo, implicando um espaço de desenvolvimento futuro da forma como forma generativa (a mesma consideração se aplica ao uso da cor no desenho).
O desenho e’, concomitantemente e de modo essencial, forma completa e incompleta, tensão essencial entre ser e devir: enquanto síntese e superação na forma e pela forma, o desenho e’ a arte ela mesma.
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